Motivos para escrever: defina os seus e liberte suas ideias

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Mesmo nutridos pelo desejo e plenos de determinação, a preguiça de sentar-se e começar a produzir sempre nos acomete. É muito mais fácil viajar dentro da mente, criar mundos fantásticos em sonhos e viver a fruição da imaginação primeira, não acha? Mas, verdade seja dita: o texto só nascerá se você o escrever.

Sempre questionei a utilidade da escrita. O tempo investido, o trabalho, a pesquisa, para que? Quais são os motivos para escrever? Estar ciente do que nos leva a transformar ideias em textos é o ponto de virada de qualquer escritor.

O que eu ganho escrevendo?

Em um mundo em que somos impelidos todo tempo a trabalhar apenas pelo dinheiro, não há questionamento mais pontual que esse. Se não for por dinheiro, por que escrevo? O escritor, preso em seu ciclo vicioso de muita prática para pouca recompensa, pode desistir no meio do caminho. São tantas as necessidades que falam mais alto, as obrigações que nos afastam da escrita que, às vezes, é melhor esquecer o sonho primeiro.

Mas aí vem aquela fome, a insaciável vontade de escrever. A mente já não funciona mais da mesma forma, os sentimentos ficam confusos e a vida aos poucos perde o sentido. Você já se sentiu assim? Que não importa o que faça, parece que nunca sairá do lugar?

Hoje eu tenho motivos para escrever. Escrevo mirando meus objetivos com clareza, sem mais desculpas ou delongas. Mas olha, não existe formula mágica que te satisfaça como escritor do dia para a noite. É preciso estar ciente de que escrever todos os dias é um pedaço do trabalho do escritor.

Escrever não é um trabalho de recompensa imediata. Os feedbacks podem demorar dois dias ou cinco anos para chegar. O importante é não deixar a peteca cair.

Vale a pena investir tanto tempo escrevendo?

É preciso plantar para colher. Não há frase que melhor defina o trabalho do escritor. Na minha caminhada como escritora, aprendi que quanto mais eu mostrava minhas ideias ao mundo, mais leitores e satisfações eu ganhava. No entanto, não é um trabalho imediato. Os feedbacks podem demorar dois dias ou cinco anos para chegar. O importante é não deixar a peteca cair.

Inscreva-se em concursos, coloque seus textos na internet, publique um livro (ou ebook, o que preferir), faça uma música, monte um projeto de financiamento coletivo, envie newsletters, não sei! Só não deixe de produzir e mostrar ao mundo o que você está fazendo.

Por que é preciso definir objetivos para escrever?

Sempre fui muito questionadora. Me formei em jornalismo e nunca trabalhei na área porque não queria banalizar meu texto, suprimir a minha voz. Fugi dos empregos formais e montei meu próprio negócio. Achei que assim teria muito mais tempo para escrever.

Acontece que a liberdade é assustadora. Ela nos trava. De tudo que posso fazer, por onde começar?

A situação começou a mudar quando comecei a trabalhar no meu livro de contos A Sala de Banho. Foi a partir de então que percebi que era preciso ter objetivos para fugir do amadorismo. Há uma enorme diferença entre escrever e ser escritor.

Escritores escrevem muito porque é besteira investir todas as fichas em um único texto. Além da prática diária, é preciso ter um leque de trabalhos para ser reconhecido.

Motivos para escrever: às vezes é melhor não tê-los

Por isso, é preciso saber o que a escrita significa para você. Esse é um questionamento íntimo e delicado que apenas você poderá responder. Não importa se o seu objetivo é escrever um best seller ou manter um diário particular. O que vale é definir o significado da escrita na sua vida. E assim, com o objetivo em mente, você passa a trabalhar a sua arte.

Escrever agora para ser lido depois

Como mencionei antes, escrever exige paciência. Escrevi esse artigo 15 dias antes de publicá-lo e é bem provável que ninguém o lerá por anos. Mas eu o escrevo acreditando que, em algum momento, minhas palavras farão sentido a alguém. Que meu trabalho como um todo será recompensado, seja financeira ou artisticamente.

Escritores escrevem muito porque é besteira investir todas as fichas em um único texto. Além da prática diária, é preciso ter um leque de trabalhos para ser reconhecido. Seria lindo poder conquistar a fama e os royalties mensais com meras 1000 palavras, mas não é assim que acontece.

Por isso, para concluir o artigo, proponho que você reflita sobre os seus motivos para escrever. Pense no que te levaria a empunhar com orgulho a caneta e preencher o papel com ideias. As suas ideias. E, depois de escritas, por que as defenderia.

Pensou? Agora escreva.

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Quem escreve sobre escrita

Mylle Pampuch

Mylle Pampuch escreve e edita livros. Publicou as histórias em quadrinhos A Samurai e Doce Jazz e os livros de contos A Sala de Banho e Realidades pré-distópicas (& modos de usar). Ministra oficinas de escrita criativa, orienta autores em seus projetos literários e incentiva todos que queiram a escrever e publicar suas próprias histórias.

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