5 livros sobre escrita criativa e o ofício de ser escritor

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É possível aprender a escrever sim. Já passou da hora de nos livrarmos da imagem do escritor artista nato. Se músicos, pintores, desenhistas, fotógrafos, cineastas, atores – para citar algumas áreas – treinam a vida inteira suas habilidades, por que ainda acreditamos que a escrita não se ensina?

Enquanto, no Brasil, os cursos superiores para escritores não são tão acessíveis quanto gostaríamos, a melhor opção é ler livros sobre escrita criativa. Com boas fontes e visões diferentes sobre o fazer literário, é possível evoluir muito ao lê-los.

É por isso que quero dividir esse material com você.

Basta seguir a ordem de leitura proposta na lista abaixo que as transformações na sua visão sobre a escrita serão imediatas.

Livros sobre Escrita Criativa

Story, de Robert Mckee

Não é à toa que esse é um dos livros mais recomendados para quem quer escrever roteiros de cinema ou histórias em quadrinhos. O livro é genial, um verdadeiro tratado sobre como criar boas histórias. E, mesmo sendo direcionado para a escrita de roteiro, quem escreve prosa pode aproveitar muitas informações dele.

Mckee passou anos pesquisando sobre narrativas e nos transporta por entre filmes, estruturas e referências bibliográficas com uma linguagem clara, objetiva e, em alguns momentos, bastante literária.

Em outras palavras, é uma aula de escrita, tanto na forma quanto no conteúdo.

Para Ler como um Escritor, de Francine Prose

Trata-se de um livro apaixonante, daqueles que é impossível não aprender algo novo. Prose é escritora e dá aulas de escrita criativa há 20 anos. Leitora voraz desde pequena, ela mostra com maestria as sutilezas da escrita, dissecando palavras, frases, parágrafos, narrativas, até chegar ao texto completo.

Mesmo que você não goste dessa análise mais técnica do texto, vale a pena a leitura. Guiados pelo olhar dela, percebemos os mecanismos usados por diversos escritores – consagrados e contemporâneos – ao iniciar, desenvolver e concluir suas narrativas. Considero o livro um divisor de águas quando penso como olhava para a escrita.

Ela se baseia na técnica do close reading: a leitura atenta do texto pelo texto, palavra por palavra, deixando de lado quaisquer outras referências que possam influir em sua interpretação – época em que foi escrito, biografia do escritor, etc.

A primeira frase do livro é de uma sinceridade chocante: A Escrita Criativa pode ser ensinada? Em seguida ela elogia a sensatez da pergunta e explica que não se pode ensinar nem a criatividade nem o amor pelas palavras. O que se ensina é a olhar o texto e reconhecer as escolhas feitas pelo escritor ao contar a história.

A edição brasileira do livro tem a apresentação de Italo Marconi e uma lista de leituras recomendadas da nossa literatura, feita pelo professor.

Oficina de Escritores, de Stephen Koch

É uma verdadeira oficina de criação literária de bolso, trazendo inúmeras reflexões sobre o fazer literário e o papel do escritor. Dividido em oito capítulos, todos etapas do processo de escrita criativa de narrativas.

Ao contrário do Story, no qual o autor nos dá fórmulas sobre como organizar a estrutura narrativa, Koch descreve um processo mais livre. Por se voltar bastante para a prosa literária – contos e romances – ele prefere se focar em fatores como a busca pelo tema da história, o fôlego para o desenvolvimento e a importância da reescrita de um texto.

Outro ponto positivo é que ele traz muitas citações de outros escritores sobre o fazer literário. Essa polifonia nos faz acreditar que estamos conversando com várias pessoas ao mesmo tempo, já que cada escritor tem uma visão diferente sobre o que é escrever.

Ele é um livro de cabeceira. Quando estiver em dúvida sobre como continuar o seu trabalho, basta abri-lo para encontrar um bom e encorajador conselho.

Do Que Falo Quando Falo de Corrida, de Haruki Murakami

Haruki Murakami é um dos escritores japoneses mais famosos da atualidade. Traduzido em mais de 40 idiomas, sua escrita acessível e sua capacidade de transitar por variados gêneros literários fazem dele um mestre vivo.

Neste livro autobiográfico, ele conta seu início como escritor – como trocou a vida noturna de dono de bar de jazz para se tornar um escritor vespertino. Ele atribui a mudança de estilo de vida a um hobby: a maratona.

São muitas as analogias feitas por ele entre escrever romances longos e ser maratonista – todos com um sentido espantoso. Força de vontade, preparo físico e disciplina estão entre seus preferidos.

E, claro, se você é fã do Murakami assim como eu, é um ótimo livro para vasculhar a mente do escritor e encontrar várias de suas influências.

Plot & Structure, de James Scott Bell

Se você procura um livro com exercícios de escrita criativa, acabou de encontrar. A obra é parte da coleção Write Great Fiction [escreva histórias incríveis], infelizmente sem tradução para o português.

É um livro bastante didático, ótimo para quem quer dar os seus primeiros passos na estruturação da história. Nele o autor mostra formas de refletir sobre o tema da narrativa, o enredo, a divisão dos atos e a revisão.

Ao final de cada capítulo, Bell propõe uma série de exercícios, alguns mais descritivos, outros mais reflexivos. Assim, o leitor fica livre para treinar suas habilidades da forma como preferir.

O escritor como um eterno estudante

A lista de livros sobre escrita criativa é infinita, ainda mais em inglês. No entanto, preciso ressaltar o papel fundamental das oficinas de Criação Literária. Mesmo reconhecendo a importância da genialidade que pegamos emprestada dos livros, o olhar atento de um escritor que se coloca na posição de mediador é insubstituível.

O objetivo das oficinas não é, de forma alguma, moldar escritores como em uma linha de produção. Ao reunir em uma mesma sala pessoas cujo objetivo é melhorar suas técnicas de escrita, afina-se o olhar.

Assim, olhar para o próprio trabalho e para o de outros torna-se não apenas um ato contemplativo, mas também analítico, de reconhecimento dos pontos fortes e do que pode ser melhorado.

Não falo aqui da crítica pura e simples – essa irritante carapuça que alguns parecem ter o prazer de vestir da comodidade de seus sofás –, mas da aceitação de que é apenas através da troca que seremos melhores.

Por isso, não tenha vergonha de aprender. Não tenha vergonha também de publicar o que você escreveu, mesmo que julgue incompleto. Mas sinta muita, muita vergonha, quando você achar que atingiu o seu melhor e não tem mais nada para aprender.

O escritor é um eterno curioso.

3 comentários

  • Olá, Mylle Silva!

    Meu nome é Patrícia, sou professora de língua portuguesa em uma escola pública do Distrito Federal.
    Em 2019, decidi encarar mais um desafio profissional: atuar no atendimento de alunos com altas habilidades/ superdotação em linguagens! Nesse meio, encontro muitos alunos interessados em escrever e, por isso, sinto a necessidade de falar sobre escrita criativa, contudo não sei por onde começar. Você me ajuda?

    Abraços,

    Patrícia

Quem escreve sobre escrita

Mylle Pampuch

Mylle Pampuch escreve e edita livros. Publicou as histórias em quadrinhos A Samurai e Doce Jazz e os livros de contos A Sala de Banho e Realidades pré-distópicas (& modos de usar). Ministra oficinas de escrita criativa, orienta autores em seus projetos literários e incentiva todos que queiram a escrever e publicar suas próprias histórias.

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